quinta-feira, 31 de março de 2011

Aparando as arestas

Após o corte bruto, é necessário aparar o excesso de madeira em relação ao desenho.


Esse trabalho é realizado com o auxílio da tupia, uma ferramenta que normalmente não é muito conhecida. A tupia é uma ferramenta elétrica que utiliza um motor muito potente em alta rotação para fazer rasgos, cortes e entalhes em madeira utilizando fresas específicas. Ela é usada, por exemplo, para fazer molduras de quadros e rodapés.

Após o molde ser fixado ao corpo da guitarra, a tupia é passada por toda a extensão da lateral. A fresa utilizada possui um rolamento que acompanha exatamente o formato do molde. Achei que seria um trabalho mais fácil, mas levou um tempo considerável para ser realizado. A tupia retira pedaços milimétricos de madeira a cada passada. Se forçar para retirar mais material de cada vez, pode lascar a madeira ou até quebrar a fresa. Por isso, é importante ser preciso e caprichar no corte do corpo para diminuir o trabalho com a tupia.



Além disso, como a fresa é menor que a altura do corpo, é necessário retirar o molde para alcançar a parte inferior.


Houve um momento que a tupia começou a chacoalhar muito e fazer um barulho diferente. Parei e vi que havia queimado uma parte da lateral, o que consegui retirar posteriormente com a lixa (vide ao foto ao final). Dei uma olhada na tupia e percebi que a fresa estava se soltando!


Tem que ter atenção para não inclinar a tupia, o que acabou ocorrendo em algumas situações e fez uns buracos indesejados. Após a passada da tupia, usei cola de madeira e serragem para tampar os buracos. Até que o resultado final após a lixada foi bom e deve ficar imperceptível após a pintura.





Finalmente, lixei todo o corpo com lixa grã 80 e 120 e o acabamento ficou bom. Ainda vai precisar de passar lixas mais finas posteriormente antes do acabamento final.



Essa etapa do trabalho no corpo da guitarra foi finalizada. Agora ele vai ficar de lado um pouquinho enquanto inicio a escala e o braço. Após o termino do braço, retornarei a mexer no corpo para fazer as escavações para o encaixe do braço, dos captadores e da parte elétrica.

segunda-feira, 21 de março de 2011

A guitarra começa a tomar forma!

O processo de corte do corpo é bastante semelhante ao corte do molde citado no artigo anterior. O desenho foi transferido para a peça de cedro com o auxílio do molde. Passei uma caneta fina em volta do molde (linha interna) e depois um giz de cera (linha externa). O objetivo é que o corte fique entre essas duas linhas tendo sempre o cuidado para não ultrapassar a linha interna. É preciso estar atento e não esquecer de traçar a linha central do corpo da guitarra que servirá para alinhamento do braço futuramente.

Por incrível que pareça, achei mais fácil cortar a peça de cedro do que a chapa da aglomerado e consegui fazer um corte bem preciso. É importante que a peça de trabalho esteja sempre bem fixada na bancada e tomar cuidado para não encostar a serra na própria bancada ou no cabo do equipamento (isso para não citar nos próprios dedos!). O cedro é uma madeira de dureza média e relativamente fácil de se trabalhar. As curvas fechadas, perto do encaixe do braço, são mais complicadas de se fazer e é necessário ir aos poucos. Vejam algumas fotos do processo.











Após o corte bruto, a próxima etapa é passar a tupia por todo o contorno do corpo para suavizar as laterais e uma boa lixada para melhorar o acabamento, o que planejo fazer no próximo fim de semana. Estou pensando em arredondar as laterais e fazer um rebaixo no local que ficarão os botões de volume e tonalidade.

Falta fazer a escavação para encaixe do braço e as escavações para instalação dos captadores e da parte elétrica para finalizar o corpo. Mas só vou fazer isso após terminar a confecção do braço para ter as medidas exatas e não ter nenhum problema com o encaixe.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Elaboração do molde

Aproveitei o feriado de carnaval para elaborar o molde da guitarra. Usei uma chapa de aglomerado de 0,5 cm porque me pareceu um material mais fácil de se trabalhar, mas poderia ter sido chapa de MDF ou até mesmo acrílico. O molde será utilizado para passar o desenho para a madeira e também como guia para a tupia aparar as laterais do corpo após o corte bruto. Ou seja, a elaboração do molde não é uma etapa necessária se a pessoa não tiver a intenção de utilizar a tupia para aparar as laterais, mas é bastante recomendável para iniciantes como um treino no uso da serra tico-tico. Qualquer erro no molde pode ser facilmente reparado e não há desperdício de madeira cara.

Imprimi a planta e copiei o desenho em papel manteiga, o qual recortei para transferir o desenho ao aglomerado. É importante checar sempre as medidas. Na primeira vez que imprimi a planta, a configuração da impressora estava errada e o desenho ficou um pouco menor que o tamanho real.







Depois foi só usar a serra tico-tico para cortar a chapa sempre prestando atenção para não passar da linha do desenho. As curvas fechadas são mais complicadas de se fazer. É preciso ir devagar e com muita paciência. Se for o caso, é melhor deixar material sobrando e ajustar depois com lima e lixa.








Após o corte, usei um pouco a lima em algumas áreas e lixa em todo o contorno para deixar as laterais bem suaves.


Taí o molde pronto!



A próxima etapa é o corte do corpo, o que só deve ocorrer no outro fim de semana. Antes preciso procurar uma lâmina de serra com tamanho suficiente para permitir o corte do bloco de cedro de 4,5 cm.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Chegaram as madeiras para a Highline Special!

Finalmente chegaram as madeiras para a Highline Special (HS). O corpo será de cedro, o braço de hard maple e a escala de pau ferro. Fiquei surpreso com o peso da chapa de cedro. Não dá para perceber muito bem pela foto, mas a peça de hard maple tem um padrão interessante e acho que vai ficar ótima após o acabamento. As madeiras já vieram aparelhadas, isto é, aplainadas e desempenadas, mais ainda vai precisar de umas passadas com a plaina para deixar a superfícies próprias para iniciar os trabalhos. Sei lá o porquê, mas já veio desenhado um modelo de braço da Stratocaster.


Tanto a peça de cedro quanto a de hard maple vieram com pequenas imperfeições que não prejudicarão o corte. Comprei as madeiras pela internete e está certo que eu pedi as madeiras mais baratas, mas não esperava que viessem com defeitos por menores que sejam.




Vou aproveitar para comentar um pouco sobre a influência da madeira no timbre final do instrumento, um assunto bastante controverso, complexo e ainda não totalmente esclarecido para mim. Quer dizer, não tenho dúvida de que o tipo de madeira influencia a sonoridade final do instrumento. Basta imaginar que as cordas são sustentadas pela pestana e pela ponte, as quais, presas as madeiras do braço e do corpo, transmitem a vibração das cordas. A madeira funciona como um filtro que absorve algumas frequências sonoras e reflete outras, influenciado, entre outras coisas, pela densidade, tipo de fibras e até mesmo o forma de corte da madeira. Assim, cada tipo de madeira apresenta uma característica sonora diferente e influenciará o timbre do instrumento.

Antes eu acreditava que a influência da madeira na sonoridade de instrumentos elétricos era mínima. Em instrumentos acústicos, como o violão, essa influência é bem mais fácil de ser percebida. Na minha visão os captadores, por exemplo, teriam muito mais influência no timbre de uma guitarra.

Mas não acho que seja como muitos falam por aí e fazem uma relação muito direta entre o tipo de madeira e o timbre do instrumento. Ou seja, para se conseguir um timbre mais encorpado e com bastante sustain, ao estilo Les Paul, bastaria construir uma guitarra com o braço e o corpo de mogno, de preferência com top de maple. Já se preferir uma sonoridade mais cristalina do tipo da Stratocaster bastaria usar alder ou ash.

Pelo que tenho lido, a madeira afeta o timbre sim, mas a sonoridade do instrumento depende de uma combinação de inúmeros fatores que têm a mesma, ou maior, importância do tipo de madeira. Fatores como uma boa construção do instrumento, o tipo de junção do braço, o uso de bons captadores e o ajuste da pestana e da ponte podem fazer uma diferença muito maior no timbre do instrumento.